A ayahuasca é uma substância psicoativa derivada do fungo Banisteriopsis caapi, também conhecido como Jagube, e da planta Psychotria viridis, também conhecida como Rainha. Este chá é consumido há milênios pela população indígena amazônica. Desde o início do século XX, a população não – índia teve contato com a bebida e surgiram novos contextos para seu uso. Hoje a ayahuasca é uma bebida legal em alguns países incluindo o Brasil.

O Sr. Raimundo Irineu Serra era um migrante maranhense que se mudou para o Acre como parte do movimento migratório Ciclo da Borracha em 1890. Trabalhando como seringueiro, descobriu a Ayahuasca em uma prática nativa na fronteira entre Brasil e Peru na década do décimo. Durante suas primeiras experiências com Ayahuasca, recebeu revelações espirituais que o levaram a fundar a religião Santo Daime na década de 1930 na cidade de Rio Branco (AC). Houve uma ressignificação do significado original da bebida Ayahuasca ao longo do processo de formação religiosa.

O foco principal desta pesquisa é o significado atual da bebida Ayahuasca dentro do Santo Daime. A hipótese do trabalho é que a ressignificação da Ayahuasca no contexto da religião se enquadra em um processo dialético de construção de sentido social que fundamenta a definição da religião como um evento contínuo determinado por condições históricas, sociais e culturais.

Dado que o Santo Daime é principalmente uma cultura oral, narrativas orais que descrevem o início do contato do Sr. Irineu com a Ayahuasca foram coletadas, degradadas, e o conteúdo dessas narrativas foi analisado a partir de um corpus teórico pertinente à história oral, memória, religião,e várias referências ao uso da Ayahuasca.

O período inicial foi escolhido pela importância do conteúdo expresso nas narrativas que retratam esses momentos, principalmente aquelas que relatam o encontro do Sr. Irineu com uma entidade espiritual conhecida inicialmente como Clara e depois como Virgem da Conceição e Rainha da Floresta. Com base no conteúdo dessas histórias, foi realizada uma análise de outras narrativas religiosas presentes nessa doutrina, com foco nos hinos religiosos que surgiram como resultado da formação de práticas rituais a partir da década de 1930.

Foi possível concluir que a bebida Ayahuasca adquiriu o significado de ser um veículo de um sacramento cristão cujo conceito é explicado pelo conceito de Juramidam, que se refere tanto ao nome espiritual do fundador da religião quanto ao conglomerado de Deus filhos unidos ao criador. Juramidam é percebido pelos seguidores do Espírito Santo como o nome da segunda vinda de Jesus Cristo, que se manifesta em seu retorno à terra como presença do Espírito Santo na Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

AYAHUASCA E SAÚDE: OS EFEITOS DE UMA BEBIDA PSICOATIVA SACRAMENTAL NA SAÚDE MENTAL DE AYAHUASQUEIROS

A ayahuasca é uma bebida psicoativa rica em dimetiltriptamina e beta-carbolinas que atuam em vários substratos neurais envolvidos no sono, percepção sensorial, emoção e importantes funções cognitivas como memória, autoconsciência, percepção do tempo, fala, semiotização e imagens mentais, entre outros. Sua preparação é feita a partir do cozimento das carnes vegetais Banisteriopsis caapi e feita a partir de Banisteriopsis caca viridis, cujo chá tem sido empregado em religiões brasileiras.

Como a ayahuasca tem um efeito específico no sistema serotoninérgico, que está envolvido em uma variedade de distúrbios psiquiátricos, estudos revelaram uma variedade de usos terapêuticos para a planta, particularmente no tratamento de drogas viciantes e depressão. O objetivo do estudo foi determinar o impacto do uso a longo prazo da ayahuasca na saúde mental de frequentadores religiosos da ayahuasqueira. Testes foram usados ​​para determinar a ocorrência de sintomas relacionados ao estresse, ansiedade, depressão, desesperança e uso de álcool e tabaco. Investigou-se também a expressão da autoconsciência através do reflexo de ruminação consciência, bem como a deterioração dos mecanismos de percepção visual e atenção através do bissec manual de linhas.

Três grupos distintos foram estudados em termos de cosmovisão e uso da ayahuasca dentro de seus sistemas de crenças para obter estados alterados de consciência com intuições sagradas, a saber, o Santo Daime, a União Vegetal e a Sociedade Panesta Ayahuasca. Os achados mostram que os ayahuasqueiros religiosos consomem álcool e tabaco em taxas muito inferiores às observadas em estudos epidemiológicos nacionais. Também não houve evidência de ocorrência relevante ou patológica de estresse, ansiedade, desespero ou depressão na população estudada, não houve efeitos na percepção visual ou nos mecanismos de atenção.

Ruminação apresentou-se positivamente correlacionado com estudos de índices psicopatológicos, indicando a mediação deste autoconsciente com problemas de saúde mental, segundo. Em todos os grupos de ayahuasqueiros, houve maiores níveis de auto reflexão em detrimento da ruminação, sendo as panteras as mais reflexivas. No entanto, não foram observados efeitos negativos óbvios como resultado da presença de agentes estressores na amostra do Santo Daime. Em conclusão, os achados corroboram com o que vem sendo publicado na literatura e sugerem que o uso ritual da ayahuasca não traz efeitos negativos ou prejudiciais aos seus usuários, mas sim um impacto positivo em sua saúde mental.

No entanto, não foi possível demonstrar uma relação entre o tempo de uso do chá e os bons resultados obtidos neste estudo, implicando a existência de vários fatores socioculturais que podem influenciar os mecanismos relacionados ao bem estar e saúde mental. Estudos futuros voltados para pesquisas controladas sobre o tratamento de transtornos psiquiátricos e dependência química com o uso da ayahuasca devem ser realizados, com ênfase especial nos contextos de uso, bem como pesquisas sobre os efeitos da droga na autoconsciência desses mecanismos.